21 de maio de 2010

Do Poder, do Partido e do Movimento


O Hugo e o Bruno marcaram a agenda do Blogue de uma forma exímia, trazendo um debate de enorme relevo à esquerda do reformismo.

Se por um lado reflectem sobre a concepção de Partido-Movimento, as formas como ambas as partes se relacionam e como travam as suas lutas, por outro frisam bem a importância de não perder o horizonte transformador e não ficarem secos nas denominadas causas fracturantes.

Um dos grandes problemas desses partidos de causas residuais e temporais é facilmente serem absolvidos pelo situacionismo. Com o evoluir do capitalismo liberal e da marcação de agenda, as suas metas políticas começam também a fazer parte da agenda dos partidos burgueses e a sua razão de existência dissolve-se no ar.

Frise-se que é de enorme relevo almejar novos direitos civis, combater as discriminações na sua totalidade, mas as metas como o conhecimento livre, a eutanásia, o aborto, o casamento lgbt, começam em vários países do capitalismo avançado a fazer parte não só das agendas das forças do regime, como são parte integrante dos direitos, liberdades e garantias.

Outro ponto precioso nesta análise é que em vários países da Europa, esse debate não se faz sempre e somente entre esquerda e direita, mas muitas das vezes, entre conservadorismo e liberalismo. Vários partidos Liberais da Europa têm a mesma agenda no campo das liberdades individuais que muitos partidos de esquerda.

O grande debate dentro desta realidade é mesmo o horizonte do Partido e da sua relação do Poder, tal como constatava o Bruno sobre o Partido Pirata, que para além do conhecimento livre, não tinha muita mais posição política, portanto completamente disponível para ser parte do jogo político do centrão.

É aqui que se distinguem claramente os campos, seja entre partidos de causas e mesmo entre partidos de esquerda.

E inevitavelmente volta-se sempre às denominadas "Quinze Teses para uma Esquerda Alternativa Europeia" apresentadas por Fausto Bertinotti. O mais curioso neste caso específico, é que o próprio Bertinotti e a Refundação Comunista comprovaram que as suas teses estavam correctas, uma vez que se injectaram com o vírus, do qual supostamente tinham o anti-vírus.

À Esquerda do Reformismo é preciso um projecto consistente, de alternativa social e sistémica, que não se compagina com coligacionismos, pragmatismos e corridas precipitadas para um poder, que não é o nosso. Ser mais que um leque de causas, ou um pequeno agente de atraso de ataques maiores ,é condição mínima para a esquerda que se queira como alternativa.

A autoridade dos partidos, a força dos movimentos sociais, não irromperam apenas das contradições objectivas com os interesses das "classes subalternas" mas também do capital
de esperança das alternativas - essa é a força subjectiva, da consciência social. A participação gestionária num governo liberal, de "centro esquerda", pode até ser justificada para impedir males maiores às classes populares mas comete o crime de roubar a esperança numa alternativa social. Umas migalhas não fazem a dignidade numa luta de opostos. Ao acentuar se a crise estratégica do reformismo mantinha se um apelo ao reagrupamento das esquerdas políticas e sociais. A Refundação ao fazer parte da crise do reformismo produz desmembramento do espaço transformador, divisões, atraso na consciência social. (1)

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