2 de agosto de 2011

Como é que isto se lê?


A Câmara dos Representantes aprovou o aumento do limite de endividamento dos EUA para evitar o default. O acordo é importante para a China enquanto maior credor da dívida americana, dívida essa que representa 70% das reservas monetárias estrangeiras chinesas...

Tendo em conta que os EUA são a maior economia do mundo, o maior devedor e maior importador mundial e a China é a segunda maior economia do mundo, o maior credor (com dívida americana na referida proporção), e o maior exportador, a ligação umbilical EUA-China e a ideia do "Too big to fail" aplicada aos EUA torna-se uma evidência.

Nos tempos que correm, há cada vez mais gente (embora seja ainda uma minoria) que começa a compreender estas coisas da política mundial. A razão deste esclarecimento parcial de algumas pessoas é simples: não só sai nos jornais, como problemas que são primos ou parentes daqueles lhes entram em casa e lhes vão doendo no bolso. Apesar disso, maioritariamente pensam que não é bem política, que é "apenas" economia. Já a "economia política" é uma ideia que na comunicação de massas soa estranho. E uma "critica da economia política", pior ainda.

Muitos deturpadores, líderes da opinião do "português médio", esse ser nacional e masculino, não deixam que se faça o filme completo, não deixam porque ou têm outra visão do mundo, ou lhes convêm outra visão do mundo - e frequentemente ambas as coisas, sendo a primeira sobredeterminada pela segunda.

Ao nível académico, muitos duvidam da utilidade da tradição marxista das Relações Internacionais, ao ponto de ser silenciada nas faculdades. Entretêm-se com debates entre liberais e realistas, deliciam-se com a disputa neo-neo entre os respectivos herdeiros, admitem como terceira via um construtivismo social que mói mas não mata e lá surge encolhido e meio a medo, da tradição marxista, apenas um neo (mas sem que com isto eu o queira diminuir) das teorias da dependência e do sistema-mundo.

A concepção materialista e dialética da história é coisa que no provincianismo colonizado por fotocópias da academia americana não existe. E nem é preciso aprender alemão, pois o inglês que lê as fotocópias americanas também poderia ler livros das universidades britânicas mais detalhados na diversidade teórica das Relações Internacionais.

Não venho aqui vender a velha Teoria do Imperialismo (de Lenine ou de Rosa), quem a compreende para além do dogma sabe que já não vivemos na era do monopólio nacional e as consequências disso. Venho defender a concepção que permitiu criar, naquele tempo, aquela teoria e que permite, também hoje, novas leituras sobre a política mundial. Fica esta sugestão de leitura, o artigo tem um ano, mas no essencial mantém-se actual e a autora é adeusleninista e tudo: Joana Mortágua, JOINT VENTURE NO CENTRO DO IMPERIALISMO GLOBAL, A Comuna nr. 22, pp. 29 a 35.

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