6 de setembro de 2011

O que diz o governo alemão


Mais precisamente o seu Ministro das finanças, Wolfgang Schäuble. No artigo que este assina no Financial Times, “Why austerity is only cure for the eurozone”, fica claro a estratégia de propaganda alemã para os próximos tempos. Vejamos.


1. “Whatever role the markets may have played in catalysing the sovereign debt crisis in the eurozone, it is an undisputable fact that excessive state spending has led to unsustainable levels of debt and deficits that now threaten our economic welfare.”

Traduzindo: os mercados erraram, não se fale mais nisso. O problema são os Estados, gastaram demasiado, porrada neles.

2. “The recipe is as simple as it is hard to implement in practice: western democracies and other countries faced with high levels of debt and deficits need to cut expenditures, increase revenues and remove the structural hindrances in their economies, however politically painful. Some progress has already been achieved in this respect, but more needs to be done. Only this course of action can lead to sustainable growth as opposed to short-term volatile bursts or long-term economic decline.”


Como podemos ler, a receita é simples, doa a quem doer. Cortar despesa (Estado social), aumentar receitas (impostos), remover os obstáculos estruturais da economia (privatizações), numa palavra: austeridade. E já, que se faz tarde.


3. "There is some concern that fiscal consolidation, a smaller public sector and more flexible labour markets could undermine demand in these countries in the short term. I am not convinced that this is a foregone conclusion, but even if it were, there is a trade-off between short-term pain and long-term gain. An increase in consumer and investor confidence and a shortening of unemployment lines will in the medium term cancel out any short-term dip in consumption."


Há uns tipos, que ganharam um Nobel, que dizem que este caminho de precariedade laboral e retirada do sector público só leva a um destino: o abismo. Nada disso. Tudo isto, um dia, daqui a muito tempo, vai dar frutos. Como? Schäuble explica: com o “aumento da confiança.” Um dia ela voltará e tudo será bom. Os 16 milhões de desempregados da zona euro deviam repetir esta frase todas as manhãs.

4. “One central lesson of the financial crisis was that markets could only function properly if risk-taking were not divorced from liability. The loosening of this bond was a central factor of the crisis. Likewise, the eurozone crisis unfolded after a decade during which economies with markedly different and, indeed, diverging fiscal profiles and competitiveness were all able to borrow at close to benchmark rates.


Hence my unease when some politicians and economists call on the eurozone to take a sudden leap into fiscal union and joint liability. Not only would such a step fail to durably solve the crisis by addressing only its most superficial symptoms, but it could make it worse in the medium term by removing a key incentive for the weaker members to forge ahead with much-needed reforms. It would also go against the very nature of European integration.”


Eurobonds? Vade retro. Uma união fiscal implica uma responsabilização europeia das dívidas, permitindo que os estados mais endividados respirem e assumam escolhas de crescimento que respeitem os salários e os serviços públicos, ou seja, que a austeridade seja recusada por uma via da repartição da riqueza e responsabilização dos donos dos mercados. Esta é a ultima coisa que Merkel e Schäuble querem ouvir. Como o último lembra acima, isso seria atirar janela fora o chicote e a cenoura, os Estados não estariam mais atados aos programas de destruição do emprego e dos serviços públicos. A austeridade deixaria de ser a única cura e o vírus liberal estaria em perigo.


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